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Ergonomia Francesa ou Ergonomia
Anglo-saxônica?
A Ergonomia trata-se de uma ciência multidisplinar
que recolhe conhecimentos de diferentes fontes.
A maturação desta ciência
provocou duas correntes principais com uma visão
diferente do estudo da relação entre
o homem e os sistemas. Um tema muito interessante
em que ainda não se tem profundizado muito
é qual o tipo de Ergonomia que se aplica
quando falamos em Usabilidade. Realmente aplicamos
critérios de Ergonomia quando falamos em
Usabilidade na web?
Correntes em Ergonomia
Existem fundamentalmente
duas correntes em Ergonomia: a Ergonomia
Francesa e a Ergonomia Anglo-saxônica.
Quer uma, quer outra têm como objectivo
principal a melhora das condições
de trabalho do ser humano. Mas a visão
de cada uma delas resulta diferente. Convém
conhecer quais são as principais diferenças:
A primeira corrente centra-se em
aspectos físicos do trabalho e nas capacidades
humanas tais como a força, a postura, a
repetição ou o alcance. Com o objectivo
de diminuir os constrangimentos provocados pelo
posto de trabalho, redefinem-se as características
do sistema para diminuir os problemas provocados
pela exposição do ser humano ao
posto de trabalho em questão. Esta corrente
tem uma clara tendência anglo-saxônica.
Uma segunda corrente é aquela
que considera os factores humanos e orienta-se
aos aspectos psicológicos do trabalho,
tais como a fadiga mental e a tomada de decisões.
Originariamente esta corrente tem a sua origem
em França.
Desde o ponto de vista da Usabilidade,
aspectos como a fadiga mental e a tomada de decisões
tem mais a ver com a Usabilidade do que com a
força, a postura ou a repetição
(apesar de estes factores também estarem
presentes...). Poderia-se dizer que uma das fontes
de conhecimento da Usabilidade é a Ergonomia
Francesa. Além disto, os métodos
de observação também aproximam-se
muito daqueles utilizados na observação
dos utilizadores na realização de
testes: Utilizam-se checklists, entrevistas, think
aloud...
Tarefa prescrita/Tarefa real
Outro aspecto importante é
a diferenciação que se faz entre
o que eles consideram tarefa prescrita (ou simplesmente
tarefa) e tarefa real (ou actividade). Poderiamos
explicar isto através de um exemplo:
Imaginemos um posto de trabalho
no qual o empregado interage com uma aplicação
web e em que o principal objectivo é inserir
uma série de dados e conteúdos que
o trabalhador recebe dos seus colegas de trabalho.
Através dos diferentes comandos que existem
na aplicação, o utilizador é
suposto fazer o upload dos distintos dados e conteúdos.
Este objectivo poderia ser definido como a tarefa
prescrita: Introduzir os dados e conteúdos
que recebe dos colegas de trabalho e fazer upload
através da aplicação enquanto
lhe chegam. É aquilo que lhe é exigido
ao trabalhador como parte inerente do seu trabalho.
No entanto, a interfaz da aplicação
sofre de graves problemas de Usabilidade: Os botões
são pouco perceptíveis e muitas
vezes o procesos não são intuitivos
(não há uma coerência lineal
nos processos), pelo que o utililizador tem que
utilizar "truques" que ajudem a não
perder o tempo na aplicação e assim
poder ter mais tempo para outras coisas. Além
disso, o servidor não suporta muitos utilizadores
ligados à aplicação ao mesmo
tempo e existe sempre o risco de perder os dados
introduzidos antes de chegar ao fim do processo.
Para evitar o utilizador ter que
fazer o mesmo processo várias vezes por
dia, sem uma frequência estabelecida e,
ainda por cima, através de uma aplicação
realmente dificil de utilizar, o trabalhador resolve
fazer upload de vários conteúdos
todos ao mesmo tempo. Ele os vai introduzindo
mas não faz upload dos mesmos. Simplesmente
faz um "Save" daquilo que vai recevendo
e quando junta um número considerável
de "pacotes" termina o proceso (tendo
ainda alguns passos à frente) até
fazer o upload.
Vemos neste exemplo que a teoría
(aquilo que lhe foi prescrito) não é
exactamente igual à práctica (aquilo
que o trabalhador faz). E vemos também
que este tipo de situações podem
ser perfeitamente normais em muitas empresas de
diferentes sectores. O objectivo é atingido
mas seguindo um percurso diferente baseado nos
conhecimentos e experiência do trabalhador
e no próprio contexto em que o trabalhador
se insere. O utilizador, através destes
"truques", consegue diminuir a carga
mental que lhe é provocada pela exposição
à aplicação várias
vezes por dia e consegue optimizar o seu tempo
no trabalho.
Esta primeira aproximação
entre a relação Usabilidade/Ergonomia
Francesa não baseia-se em fonte nenhuma
e está 100% sujeita a ideias e alterações
por parte dos leitores.
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